Donald Triplett, a primeira pessoa a ser diagnosticada com autismo, faleceu na semana passada em sua cidade natal, Forest, Mississippi, aos 89 anos, vítima de câncer, de acordo com informações do The New York Times. Sua história teve um impacto significativo no estudo do autismo em adultos mais velhos, tornando-se um símbolo dessa luta.
Donald Triplett chamou a atenção da mídia quando já estava na fase adulta e se tornou um exemplo na pesquisa sobre a vida de pessoas mais velhas com autismo. Joseph Piven, professor de psiquiatria e pediatria da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, afirma que Triplett foi abraçado pela sua comunidade local, o que certamente “fez uma grande diferença em sua vida e deve incentivar o campo a explorar todos os aspectos do autismo na terceira idade para maximizar a qualidade de vida das pessoas que seguem seus passos”.
Donald Gray Triplett nasceu em 8 de setembro de 1933, filho de Mary e Beamon Triplett, uma família abastada. Durante a infância, Donald era conhecido por se sentir mais feliz quando estava sozinho, vivendo em seu próprio mundo e alheio ao que acontecia ao seu redor, como descreveu seu pai. Em 1937, ele foi enviado para uma instituição infantil estadual no Mississippi.
Arrependidos dessa decisão, seus pais retiraram-no da instituição um ano depois, indo contra as recomendações médicas, e o levaram para conhecer o psiquiatra Leo Kanner, na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland. Beamon Triplett era conhecido por sua atenção aos detalhes e intensidade, tendo passado por dois colapsos mentais. Ele enviou a Kanner 33 páginas de anotações sobre os comportamentos e a história de vida de seu filho, inclusive mencionando que Donald podia “cantar e entoar muitas músicas com precisão” desde a idade de um ano, além de ter colapsos emocionais se suas rotinas fossem interrompidas, de acordo com o artigo pioneiro de Kanner, intitulado “Distúrbios autísticos do contato afetivo”, publicado em 1943. Triplett foi uma das 11 crianças descritas por Kanner naquele artigo, sendo referido como “Donald T.” no “Caso 1”.
Aos 9 anos, Triplett foi morar em uma fazenda da família, localizada a cerca de 16 quilômetros de sua casa de infância. O casal proprietário da fazenda não tinha filhos e direcionou sua energia para atividades como cavar poços e contar fileiras de milho enquanto ele ajudava na lavoura.
Ele passou quatro anos na fazenda, concluiu o ensino médio e ingressou na faculdade, onde estudou francês e matemática no Millsaps College, no Mississippi. Durante esse período, ele também cantou em um coral a capella e se juntou a uma fraternidade. Após a formatura, retornou à casa de seus pais. Na vida adulta, Donald era um viajante entusiasmado e trabalhava como contador em um banco local.
Embora seus pais tenham falecido na década de 1980, Triplett continuou a viver na casa onde cresceu, levando uma vida relativamente discreta. Sua história só voltou à tona quando dois jornalistas rastrearam o “Caso 1” por meio de antigos registros médicos, descobrindo que “Donald T.” ainda vivia no Mississippi.
O artigo resultante, publicado em 2010 no The Atlantic, retratou a vida de Triplett como um aposentado apaixonado por golfe. Sua história também foi apresentada pelos mesmos jornalistas no livro de 2016, intitulado “In a Different Key: The Story of Autism”, que foi finalista do Prêmio Pulitzer e gerou um documentário exibido pela PBS em 2022.