Um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego (UC San Diego) sugere que um cérebro anormalmente grande pode ser o primeiro sinal de autismo profundo (ou nível 3), visível já no primeiro trimestre de gestação. Publicada na revista *Molecular Autism*, a pesquisa utilizou células-tronco de crianças com autismo idiopático para criar organoides corticais cerebrais (BCOs, na sigla em inglês para brain cortical organoids — também conhecidos como “minicérebros”), que são modelos do córtex fetal. Os BCOs de crianças autistas eram significativamente maiores que os de crianças neurotípicas, com um aumento de cerca de 40%. Quanto maior o “minicérebro”, mais graves eram os sintomas sociais e de linguagem dessas crianças, segundo os resultados do estudo.
A pesquisa, liderada pelos professores Alysson Muotri e Eric Courchesne, revelou que o crescimento anormal dos BCOs em crianças com autismo está correlacionado com a severidade da apresentação da condição autista. Crianças cujos respectivos “minicérebros” excessivamente aumentados mostraram volumes cerebrais maiores em áreas relacionadas à socialização, linguagem e funções sensoriais quando comparadas aos seus pares neurotípicos. “O ditado ‘quanto maior o cérebro, melhor’ nem sempre é verdadeiro,” afirmou Alysson Muotri, diretor do Instituto de Células-Tronco da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA). “Nos organoides cerebrais de crianças com autismo severo, há mais células proliferando e, consequentemente, mais neurônios — e isso nem sempre é positivo.”
Formação acelerada de neurônios
O estudo descobriu que os BCOs de todas as crianças com autismo, independentemente da severidade, cresciam aproximadamente três vezes mais rápido do que os de crianças neurotípicas. Algumas das maiores organoides cerebrais, provenientes de crianças com casos mais graves e persistentes de autismo, também apresentaram uma formação acelerada de neurônios. Essa descoberta sugere que a gravidade do autismo pode estar diretamente ligada à taxa de crescimento e número de neurônios no cérebro.
Eric Courchesne, coautor do estudo, destacou a importância desse tipo de pesquisa. “Os sintomas centrais do autismo são problemas sociais e de comunicação. Precisamos entender as causas neurobiológicas subjacentes a esses desafios e quando eles começam. Somos os primeiros a projetar um estudo de células-tronco para abordar essa questão específica e central do autismo,” disse Courchesne, que também é codiretor do Centro de Excelência em Autismo da UC San Diego.
A descoberta de que o crescimento excessivo do cérebro começa ainda no útero pode abrir caminho para novas terapias destinadas a melhorar as funções intelectuais e sociais das pessoas com autismo. Os pesquisadores agora esperam identificar a causa desse crescimento acelerado para desenvolver tratamentos que possam ajudar na função social e intelectual dos afetados.
Para mais detalhes sobre esta pesquisa pioneira, a reportagem completa pode ser acessada no site Medical Express e também no UC San Diego Today. O estudo completo pode ser acessado neste link.
https://tismoo.us/wp-content/uploads/2021/08/minic--rebros.png6001077paiva/wp-content/uploads/2018/03/logo-tismoo.pngpaiva2024-06-08 10:28:402024-06-08 10:34:40Novo estudo sugere que crescimento excessivo do cérebro determina a gravidade do autismo
O neurocientista brasileiro Alysson Muotri está à frente de mais um projeto revolucionário que visa explorar a biodiversidade da Amazônia em busca de tratamentos eficazes para doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, e outras condições neurológicas, incluindo o autismo. Em colaboração com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a pesquisa de Muotri utiliza minicérebros — organoides cerebrais que replicam a estrutura do cérebro humano — que serão enviados à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) para estudos em condições de microgravidade. A iniciativa promete avançar significativamente o entendimento de doenças neurológicas através do estudo de moléculas oriundas da biodiversidade de plantas amazônicas com potencial terapêutico e foi destaque no G1 neste domingo (5).
Além da exploração científica, o projeto incorpora uma integração tecnológica notável, onde robôs equipados com inteligência artificial são usados para identificar e coletar espécies vegetais na vasta floresta Amazônica. Este aspecto do projeto não só aumenta a eficiência na coleta de dados, mas também ajuda a preservar o conhecimento indígena sobre as propriedades curativas das plantas, colaborando com os líderes Huni Kuin no Acre. Segundo a reportagem do jornalista Roberto Peixoto, a pesquisa do brasileiro planeja começar os experimentos espaciais em meados de 2025, e os resultados poderiam oferecer novos caminhos para o desenvolvimento de tratamentos mais eficientes e menos invasivos para pacientes ao redor do mundo.
O projeto esta sendo financiado pela iniciativa Humans in Space, do grupo de investimentos sul coreano Boryung, e pelo Centro Integrado de Pesquisa Espacial de Células-Tronco em Órbita (sigla em inglês, ISSCOR) localizado na Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), na qual Muotri é diretor.
‘Máquina do tempo’
O aspecto inovador do estudo não reside apenas no uso de tecnologias de ponta e na colaboração intercultural, mas também na rapidez com que os organoides cerebrais envelhecem no espaço, proporcionando uma oportunidade única para estudar as doenças em um curto espaço de tempo. Esse envelhecimento acelerado permite aos cientistas observar os efeitos potenciais de neurodegeneração e testar a eficácia de moléculas isoladas antes de serem aplicadas em contextos terapêuticos na Terra — “É quase uma máquina do tempo!”, brinca o Dr. Muotri a respeito desse efeito da microgravidade. Ainda, a sustentabilidade do projeto é destacada pela intenção de Alysson Muotri de destinar uma parte dos eventuais lucros obtidos com futuras descobertas terapêuticas aos povos indígenas, reconhecendo sua contribuição vital para o sucesso da pesquisa.
Este projeto não apenas eleva o papel do Brasil no cenário científico internacional, mas também exemplifica uma abordagem holística e responsável para com a ciência moderna, integrando respeito pela natureza e pelas culturas indígenas com inovações tecnológicas e médicas. É um esforço colaborativo que espelha a complexidade dos desafios que enfrentamos e o potencial das soluções inovadoras que podemos alcançar.
Autismo e neurodesenvolvimento
Vale destacar que o Dr. Alysson Renato Muotri, que é professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA) e lidera o Muotri Lab naquela mesma universidade, também é cofundador da Tismoo Biotech e da Tismoo.me, startups brasileiras que atuam com autismo e neurodesenvolvimento — esta última lançou uma inteligência artificial especialista em autismo, chamada Genioo, no último dia 02.abr.2024, que atualmente pode ser utilizada sem custo. Ele foi convidado pela Nasa (a agência espacial dos EUA) para ir pessoalmente à ISS no ano que vem para conduzir pesquisas relacionadas a neurodesenvolvimento, o que o tornaria o primeiro cientista do mundo a ir ao espaço!
Para mais detalhes sobre esta pesquisa pioneira e seus desenvolvimentos futuros, a matéria completa, do jornalista Roberto Peixoto, ilustrações de Ana Moscatelli, com edição de Ardilhes Moreira — contendo diversas animações, ilustrações e infográficos —, pode ser acessada no site do G1, neste link.
https://tismoo.us/wp-content/uploads/2024/05/amazonia-robos-espac--o-muotri.jpeg8001068paiva/wp-content/uploads/2018/03/logo-tismoo.pngpaiva2024-05-07 09:18:322024-05-07 09:18:32Da Amazônia ao Espaço: pesquisa para Alzheimer e autismo de Muotri é destaque no G1
Em entrevista exclusiva à Revista Autismo, o neurocientista brasileiro Alysson Muotri, professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), explica em detalhes o porquê de enviar organoides cerebrais (“minicérebros”) de autistas para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês para International Space Station). Assista à entrevista em vídeo no Canal do Youtube da Revista Autismo.
Dr. Alysson Renato Muotri, que é e cofundador das startups Tismoo Biotech e Tismoo.me, explicou sobre cada um dos quatro envios de remessas de organoides cerebrais para a Estação Espacial, o que deu certo e o que deu errado em cada um deles, desde 2019 — inclusive sobre a remessa que está atualmente no espaço. Ele fala ainda do convite da Nasa para que ele seja o primeiro cientista do mundo a ir ao espaço, o que deve acontecer no próximo ano (2024), além de seu esforço para levar experimentos brasileiros para a ISS.
Entrevista em vídeo
Não deixe de assistir, a seguir, à entrevista, que tem 38 minutos de pura neurociência a respeito de autismo, neurodesenvolvimento e síndromes relacionadas ao espectro.
https://tismoo.us/wp-content/uploads/2022/07/Envio-de-minicerebros-para-ISS-jul2022.png600900paiva/wp-content/uploads/2018/03/logo-tismoo.pngpaiva2023-12-11 00:57:142023-12-13 07:38:46Em entrevista, Muotri explica por que enviar 'minicérebros' de autistas ao espaço
Em um feito pioneiro, a equipe de pesquisa da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), liderada pelo neurocientista brasileiro Dr. Alysson Muotri, cofundador das startups Tismoo.me e da Tismoo Biotech, realizou, em parceria com a Nasa (a agência espacial americana), o quarto envio de organoides cerebrais (“minicérebros”) para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês para International Space Station) — o primeiro envio aconteceu em 2019. O projeto, que decolou na 29ª missão de reabastecimento comercial da SpaceX, tem como objetivo entender a influência da microgravidade, radiação e outros fatores espaciais no processo de envelhecimento cerebral e contribui para sua pesquisa sobre autismo.
Vale destacar também que, recentemente, o Dr. Muotri fez uma proposta ao governo brasileiro para expandir essas aplicações para cientistas brasileiros, mas ainda não obteve resposta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil.
A missão
Utilizando organoides cerebrais, que são versões miniaturizadas e laboratoriais do cérebro humano derivadas de células-tronco, os cientistas buscam esclarecer a resposta do cérebro aos estressores espaciais. Pesquisas anteriores já indicaram um envelhecimento molecular acelerado dos organoides na ISS. A nova experiência promete expandir a compreensão sobre a saúde cognitiva e explorar formas de proteger o cérebro contra o declínio cognitivo e melhorar os modelos de “minicérebros” para os estudos sobre transtorno do espectro do autismo (TEA) e outras condições do neurodesenvolvimento (Leia o artigo “Minicérebros no espaço? Pra quê?“ para entender a relação entre autismo e o espaço).
Dr. Muotri enfatiza a importância da ISS como um ambiente insubstituível para simular a microgravidade por períodos prolongados, o que não é possível na Terra. O estudo, que faz parte de um amplo programa de investigação do Instituto de Células-Tronco Sanford, será conduzido em uma plataforma microfluídica automatizada e terá duração de 30 a 40 dias, exigindo pouco envolvimento dos astronautas. Nesta missão, duas pesquisadoras brasileiras do Muotri Lab participaram dos experimentos que estão sendo enviados à ISS, Luisa Coelho e Livia Luz.
Durante a permanência na ISS, os pesquisadores monitorarão o crescimento dos organoides e a morte celular, além de documentar as mudanças sofridas pelos modelos em resposta ao ambiente espacial. Com o retorno à Terra, serão analisadas as atividades celulares e coletados dados de expressão gênica para entender a resposta dos organoides ao voo espacial.
CRS-29
Os resultados podem trazer benefícios não só para futuros astronautas, mas também para a proteção do cérebro humano contra o declínio cognitivo na Terra, oferecendo novas perspectivas para o tratamento de doenças neurodegenerativas como demência, alzheimer e, logicamente, autismo.
A missão SpaceX CRS-29 zarpou do Centro Espacial Kennedy da Nasa, no Cabo Canaveral, Flórida (EUA), nesta sexta (6.nov.2023), às 00h01 — horário de Brasília. O sucesso desta missão reforça o compromisso contínuo com a pesquisa espacial e seu potencial para gerar descobertas revolucionárias na medicina regenerativa e na investigação aprofundada a respeito do transtorno do espectro do autismo (TEA).
“Ontem decolou do Cabo Canaveral na Florida, nosso maior experimento biológico, feito por duas brasileiras (Livia e Luisa), para a estação espacial. São três payloads, com milhares de organoides cerebrais humanos, que irão crescer pelos próximos 30 dias em microgravidade. Os experimentos foram desenhados para entender os mecanismos de envelhecimento neural, abrindo perspectivas para o envelhecimento saudável e tratamento de milhares de condições neurológicas, incluindo autismo e demências. E de quebra, estaremos ajudando a colonização interplanetária. Pessoalmente, acho que o foguete leva ainda algo mais importante, a esperança de que a humanidade, ao olhar o mundo por uma outra perspectiva, consiga encontrar um caminho de se desenvolver sem autodestruição. Parabéns ao Brasil por treinar cientistas com esse calibre, sem medo de inovar. Que outros experimentos, tão fascinantes quanto esse, venham num futuro proximo.”
Veja, a seguir, o vídeo do lançamento do foguete com a pesquisa do Dr. Alysson Muotri rumo à ISS.
Uma visita da Revista Autismo ao laboratório do Dr. Alysson Muotri, cofundador da Tismoo, na Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), nos Estados Unidos, mostrou os bastidores do ambiente em que são produzidas as principais pesquisas científicas do mundo quando o assunto é autismo, síndromes relacionadas e a relação entre a genética e o neurodesenvolvimento humano.
O jornalista Francisco Paiva Jr. esteve no Muotri Lab, na UCSD, e fez uma longa entrevista com Dr. Muotri sobre as atualizações no mundo da genética e do autismo e condições de saúde relacionadas ao espectro. Entre um passeio por todo o laboratório e a entrevista, foram abordados temas importantes como: pesquisa com canabidiol (CBD), “minicérebros”, Estação Espacial Internacional, o próximo evento de neurociência (em novembro/2022, increva-se aqui), como são “produzidos” os organoides cerebrais, investimento em ciência e o que podemos esperar das mais modernas pesquisas na área do transtorno do espectro do autismo (TEA).
https://tismoo.us/wp-content/uploads/2022/10/MuotriLab-1-900x600px.png600914paiva/wp-content/uploads/2018/03/logo-tismoo.pngpaiva2022-10-18 18:11:032022-10-18 20:14:51Visita ao Muotri Lab, em San Diego (EUA), mostra bastidores da pesquisa científica
Segundo o neurocientista, sabendo qual é o subtipo de autismo, sua mutação genética, é importante filiar-se a associação de pacientes dos EUA
O neurocientista brasileiro Alysson Muotri, professor da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA) publicou recentemente em suas redes sociais a respeito de terapias gênicas, que estariam próximas de se tornarem realidade nos Estados Unidos e recomendando que famílias brasileiras com pessoas autistas, que saibam sua alteração genética, portanto seu subtipo de autismo, se filiem a associações norte-americanas. Fomos perguntar a ele detalhes dessa informação, numa entrevista por vídeo.
A postagem original dele foi a seguinte: “terapia gênica para autismo está se tornando uma realidade. Diversos subtipos de autismos são causados por mutações em um único gene. A introdução do gene correto nas células neurais é uma possível forma de reversão da condição. Os genes MECP2, CDKL5, SHANK3, SETD5, UB3A e FMRP já estão com protocolos bem encaminhados. Semana passada, nosso lab submeteu a patente de terapia gênica para o TCF4. Muitos outros estão a caminho. É importante fazer o sequenciamento genético (recomendo a Tismoo no Brasil). Achando-se o gene candidato alterado, filie-se a respectiva associação de pacientes nos EUA o quanto antes. Por serem raros, pacientes do mundo todo podem vir a ser recrutados em ensaios clínicos”.
Terapia gênica
Este tipo de terapia consiste na correção de um gene alterado através de modernas técnicas de edição genética, ou seja, “consertando” artificialmente uma mutação em um gene que causa uma doença ou condição de saúde. A técnica utilizada foi com a enzima Crispr-Cas9 (do inglês: Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats — em português: repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente interespaçadas), uma tecnologia que permite copiar e colar o DNA. Para quem quiser entender a técnica, há um vídeo do canal Ciência Traduzida (quem quiser ver uma versão reduzida, assista de 3:12s a 5:50s) e o site G1 também fez um infográfico bem interessante explicando a técnica.
Para esclarecer diversas dúvidas, fizemos uma entrevista com o neurocientista.
Entrevista
Portal Tismoo — O que é exatamente uma terapia gênica?
Alysson Muotri — A terapia gênica consiste na correção de um gene alterado dentro de uma célula que causa uma certa condição [de saúde]. O autismo tem um fator genético muito forte e muitas das causas do autismo são monogênicas, ou seja, causado por alterações ou mutações em apenas um gene. Muitos destes subtipos de autismo, ao se conhecer mais das características daquele gene [alterado] e como ele leva àquele quadro clínico, acaba se transformando em uma síndrome. É o caso da Síndrome de Rett, causada por mutações no gene MECP2 e outras síndromes relacionadas. Esses subtipos de autismo são muito atraentes para terapia gênica, por serem decorrentes de um único gene alterado. Então, corrigindo esse gene, espera-se que as consequências moleculares, celulares e comportamentais sejam todas reversíveis.
Portal Tismoo — E funciona?
Alysson Muotri — Resultados pré-clínicos, ou seja, feitos em laboratórios. mostram a prova de conceito de que essas estratégia funciona, incluindo dados do meu próprio laboratório, mostrando que é possível uma reversão completa das alterações causadas pelo gene MECP2 alterado, em neurônios humanos. Isso também já foi demonstrado em modelos animais. Todos esses dados estão sendo apresentados ao FDA (Food and Drug Administration — agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos). Em geral, é uma Indústria farmacêutica que tem o suporte, para bancar um ensaio clínico e que acaba liderando essa proposta. A indústria licencia a tecnologia das universidades, junta toda a informação pré-clínica existente num pacote e apresenta ao FDA, que é a agência que irá verificar se há condições e suporte científico suficiente para que a tecnologia seja testada em humanos.
Portal Tismoo — E essa “correção” pode ser feita no cérebro de uma pessoa?
Alysson Muotri — A forma de você fazer a correção genética é mais fácil em tecidos que são de fácil acesso, como a pele ou sangue. No caso do autismo o tecido afetado é o sistema nervoso — óbvio que outros também estão, mas a parte comportamental, de linguagem e social, é afetada pelo sistema nervoso — e o cérebro, diferentemente de outros tecidos, está protegido pela caixa craniana. Portanto, fazer a correção genética nas células humanas neurais é problemático, por não termos esse acesso. Para isso, utilizamos partículas virais. Existem uma série de vírus neurotrópicos, ou seja, são que atraídos por células do sistema nervoso. Manipulamos esses vírus em laboratório para carregar o gene correto e penetrar no sistema nervoso humano, infectando as células do cérebro e fazendo a correção genética. Essa estratégia.
Portal Tismoo — Essa é uma técnica que já se domina?
Alysson Muotri — Essa técnica é antiga e tem sido dominada pela indústria da biotecnologia há bastante tempo, com alguns casos de sucesso, mas ainda muito poucos no sistema nervoso. Obviamente, isso tudo tá muito mais avançado nos Estados Unidos , onde há uma cultura de inovação e tecnologia muito forte. O Brasil, por não investir nessa área, acaba sendo um consumidor desta tecnologia. Por conta disso, pagaremos um preço alto.
Portal Tismoo — Quais os próximos passos?
Alysson Muotri — Essas empresas [da indústria farmacêutica] que que têm essa tecnologia, conseguindo aprovação do FDA, organizam ensaios clínicos, ou seja, recrutam pessoas com mutações em genes específicos para que os testes clínicos sejam feitos. São os testes clínicos que vão indicar se realmente a terapia gênica vai ser efetiva ou não para aquele determinado gene. Isso está sendo discutido atualmente para Síndrome de Angelman e de Rett. Mas há uma série de outras síndromes do espectro do autismo, com outros genes alterados, que estão a caminho. Temos caminhado muito rápido nessa direção, mas alguns genes estão mais para trás, pois são pouco conhecidos. Há também uma questão também do tamanho do gene. Se o gene é muito grande, não cabe dentro das partículas virais. Genes menores têm maiores chances de prosperar. Essa série de fatores influenciam no porquê alguns genes estão mais avançados do que outros. As empresas [que lideram os testes clínicos] vão atrás de bancos de dados ou de organizações que concentram pacientes, pois obviamente são muito raros, já que as mutação que causam o autismo são muitas, para recrutar pessoas para participar dos ensaios clínicos.
Portal Tismoo — E como saber qual é a mutação genética para poder participar desses testes clínicos?
Alysson Muotri — A única forma de saber é através do sequenciamento genético, um tipo de exame genético. O sequenciamento é diferente de um microarray ou cariótipo, que acusam alterações mais grosseiras no genoma. O sequenciamento faz a leitura individual de cada letrinha do DNA, para identificar qual seria o gene alterado. Há dois tipos principais de sequenciamento genético: o do exoma e o do genoma completo. O sequenciamento do exoma faz a leitura de genes com maiores chances de você encontrar um defeito, que é mais ou menos 1% do genoma todo. O sequenciamento completo do genoma não olha só para 1%, olha para 100% do genoma e faz a leitura completa, independente daquele gente ter mais chances ou menos chances de estar mutado.
Portal Tismoo — E por que filiar-se a associações de pacientes nos Estados Unidos?
Alysson Muotri — Uma vez que você sabe qual o gene, recomendo se associar a essas associações internacionais. O nome da pessoa que tem autismo e sua mutação tem que estar no banco de dados dessas associações, facilitando o trabalho de recrutamento pela indústria farmacêutica. Isso já acontece bastante nos EUA. E, obviamente, como o exame genético não é tão comum fora dos EUA, ficamos assim atraentes se formos um país com maior controle da informação genética dos nossos pacientes.
Se você não fez um exame genético e, portanto, não sabe qual seu subtipo de autismo/variante genética, lei este nosso artigo: “Qual exame genético é mais indicado?“
https://tismoo.us/wp-content/uploads/2020/11/portal-Terapias-ge--nicas-para-o-autismo-podem-virar-realidade-logo.jpg588900Tismoo/wp-content/uploads/2018/03/logo-tismoo.pngTismoo2020-11-13 14:50:122023-01-23 10:39:02Muotri alerta: terapias gênicas para o autismo podem virar realidade logo
Revista Autismo faz live para debater pesquisa científica que confirmou a ineficácia para tratar autismo com células de cordão umbilical
O neurocientista dr. Alysson Muotri esclareceu, na última sexta-feira (29.mai.2020), que tratamento para o Transtorno do Espectro do Autismo utilizando células-tronco de cordão umbilical — as chamadas células mesenquimais — não é eficaz, segundo estudo científico publicado recentemente no The Journal of Pediatrics. A explicação aconteceu em uma live (transmissão ao vivo via internet) realizada no perfil do Instagram da Revista Autismo (@RevistaAutismo).
O brasileiro Muotri, que é professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) e cofundador da Tismoo, explicou que o estudo foi um ensaio clínico fase 2, feito pela Duke University e 100% financiado por filantropia. Ele ainda pediu ajuda para denunciar clínicas que cobram por esse tipo de tratamento, que antes do estudo publicado já não tinha evidência de que funcionaria. Agora, entretanto, está cientificamente comprovado que as células mesenquimais não funcionam e são ineficazes para o tratamento de autismo.
O estudo completo pode ser acessado neste link ou em PDF.
Exames genéticos
Na live, o neurocientista ainda explica sobre quais exames e tratamentos têm comprovação científica, como terapia comportamental ABA (Applied Behavior Analysis), integração sensorial e exames genéticos (como CGH-Array e sequenciamento genéticos do genoma e do exoma).
Aliás, falando de exames genéticos, Muotri explicou como a Tismoo tem feito seus exames à distância, o que já era uma opção desde o início, agora é a recomendação. “Os kits de coleta de saliva são enviados via correio, sem contato pessoal. São devolvidos pelo correio também e as consultas pós-teste para explicar os resultados dos exames à família e ao médico são feitas por videoconferência”, relatou ele, destacando que não é preciso usar sangue para os exames genéticos da Tismoo. O uso das mais novas tecnologias permitem não necessitar de coletas invasivas para pessoas com autismo, como a de sangue, evitando a muitas delas um grande desconforto.
https://tismoo.us/wp-content/uploads/2020/05/portal_Muotri-Live-29mai2020.jpg622900Tismoo/wp-content/uploads/2018/03/logo-tismoo.pngTismoo2020-05-31 19:36:592020-06-04 07:48:36Em live, Alysson Muotri fala sobre estudo que refuta tratamento com células-tronco para autismo
Entenda qual o objetivo do neurocientista Alysson Muotri enviar organoides de cérebro para fora do planeta
No dia 21 deste mês (julho de 2019), o neurocientista brasileiro Alysson Muotri, cofundador da Tismoo e diretor do programa de células-tronco da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), vai enviarminicérebros humanos para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) para auxiliar sua pesquisa com autismo entre outras questões. Os organoides serão enviados na próxima missão logística da SpaceX para o espaço, que decola do Cabo Canaveral, na Flórida (EUA), com o nome de BOARDS (Brain Organoid Advanced Research Developed in Space) com a designação UCSD-ORG01 da NASA. Saiba mais sobreminicérebros criados a partir de células-tronco humanasneste link.
Ao contrário do que acontece no laboratório de Alysson, o Muotri Lab, onde há condições ideais para o crescimento dos minicérebros, no espaço eles ficarão armazenados em frascos dentro de cubos autônomos de pouco mais de 10 por 10 centímetros, que possuem incubadoras especializadas alimentadas por bateria.Tubos de controle remoto alimentam os organoides com uma solução de nutrientes. Os astronautas planejam instalar (leia-se: “ligar na tomada” e pronto!) os cubos em um laboratório permanente na Estação Espacial Internacional. “Os cubos são autônomos, mas nós conseguimos interferir por controle remoto. Se algo der errado, temos a possibilidade de corrigir algumas coisas”, explicou o neurocientista.
Projetados por uma empresa com sede no Kentucky (EUA), chamada Space Tango, especializada em criar laboratórios em miniatura, os cubos têm micro câmeras para transmitir vídeos do crescimento dos organoides para a Terra em tempo real, além de uma série de outros sensores como temperatura e humidade.
Um grupo de minicérebros crescerá no Muotri Lab, para, quando os organoides retornarem à Terra, em agosto, os cientistas possam analisar sua expressão gênica e comparar os resultados com os dos organoides que cresceram por aqui. “Na primeira missão, eles ficarão 30 dias, quando voltam na mesma nave e parte dos cubos serão reaproveitados. Em futuras missões, queremos mantê-los no espaço por até um ano”, explicou Alysson.
Objetivos
O projeto tem, em resumo, três grandes objetivos, segundo o próprio Alysson explica (veja vídeo abaixo).
O primeiro é desenvolver uma plataforma autônoma para manter esses organoides de cérebro crescendo sem intervenção humana, o que ajudará muito no trabalhos de testes para descoberta de novos medicamentos para várias condições, como o autismo. A segunda meta é descobrir se os minicérebros resistem à microgravidade. “No espaço, sabemos que ele estarão crescendo de uma forma diferente. Seria isso uma vantagem ou uma desvantagem para o desenvolvimento do cérebro humano?”, questiona o neurocientista.
O último — mais ambicioso — objetivo é entender os impactos da microgravidade numa futura colonização do espaço pelos seres humanos. “Entendendo um possível impacto negativo, podemos trabalhar isso aqui em Terra e preparar o cérebro humano para nascer e viver no espaço”, resume Alysson Muotri. Os detalhes do experimento também podem ser vistos no site da NASA (a agência espacial do governo dos EUA).
Tentar cultivar organoides no espaço é, na verdade, um grande avanço. Os organoides do cérebro podem realmente fornecer informações valiosas sobre as células-tronco que podem aparecer quando você tem um bebê lá”, disse, aoSpectrum News, Ferid Nassor, professor assistente de células-tronco e engenharia genética no Institut Sup’Biotech de Paris (França).
A missão é a primeira de 10 outras que estão planejadas, que, juntas, podem ajudar os cientistas a responder questões fundamentais sobre o desenvolvimento do cérebro — e, em última análise, descobrir se as pessoas podem se reproduzir com segurança fora da Terra.
Algumas pesquisas no espaço, como o famosoestudo da NASA sobre os astronautas gêmeos Scott e Mark Kelly, sugeriram que a microgravidade pode ter efeitos sutis na expressão gênica. Pesquisadores também descobriram que as células-tronco de animais se multiplicam mais rapidamente no espaço do que na Terra e estão investigando se a radiação cósmica altera seu desenvolvimento.
Brasil no espaço
Os minicérebro vão na missão logística da SpaceX que deverá ser lançada às 23h32 UTC (20h32 no fuso-horário de Brasília) do dia 21 de julho de 2019. O lançamento da missão CRS-18 com o veículo de carga Dragon SpX-18, levado pelo fogueteFalcon 9-074 (B1056.2) será a partir do Complexo de Lançamento SLC-40 daEstação da Força Aérea (AFS) do Cabo Canaveral, nos Estados Unidos. Além da carga logística para a tripulação permanente da ISS, a bordo da Dragon SpX-18 estarão dois pequenos satélites: RFTSat e MakerSat-1.
E tem mais coisas de brasileiros que estarão nessa mesma missão: apoiados pela NASA e pela SpaceX,dois projetos de estudantes brasileiros — um de São Paulo e outro de Santa Catarina — para testar interações físicas e químicas na Estação Espacial Internacional. Ambos os projetos, participantes do programa Student Spaceflight Experiments Program (SSEP) do Centro Nacional para Educação Científica para Terra e Espaço, podem contribuir para o futuro da vida humana fora da Terra: um quer melhorar a proteção de seres humanos da radiação em construções no espaço e outro tem como objetivo construir um sistema mais apurado para filtração de água para consumo humano em espaçonaves.
https://tismoo.us/wp-content/uploads/2019/07/SpaceX.jpg570844Tismoo/wp-content/uploads/2018/03/logo-tismoo.pngTismoo2019-07-11 16:03:292019-07-12 17:59:27Minicérebros no espaço? Pra quê?
A Tismoo tem em seu time profissionais reconhecidos nas pesquisas envolvendo genética. Um deles é o Dr. Alysson Muotri, cujo trabalho também é focado no estudo do espectro do autismo. Recebemos diversas dúvidas sobre sequenciamento genético e convocamos nosso especialista para responder.
Quais as diferenças entre os exames genéticos mais antigos, como o CGH — Array ou o Cariótipo, e o sequenciamento genético?
O CGH- Array e o Cariótipo não sequenciam o DNA, não permitem a leitura do material genético. Esses exames mostram se existe alguma alteração cromossômica grosseira, como a perda de um pedaço do cromossomo, por exemplo. Mas dentro dessa perda podem estar incluídos milhares de genes.
O sequenciamento genético é o único que vai dizer em quais genes específicos as mutações se encontram.
Ele pode ser feito de duas formas. Uma é o completo, o que chamamos de Whole Genome Sequencing (WGS), ou Sequenciamento do Genoma Completo. Esse vai ler as 3 bilhões de palavras e letras que tem no DNA para encontrar mutações tanto em regiões conhecidas, como em regiões desconhecidas.
O outro tipo é o que chamamos de Exome Sequencing, ou Sequenciamento do Exoma. Ele vai olhar apenas para as regiões conhecidas do genoma. Muitas são os genes codificantes para proteínas, que são a base da estrutura celular, onde a maior parte das mutações conhecidas hoje se encontram. A grande diferença é que no WGS você vai ter uma visão mais precisa e, ao mesmo tempo, panorâmica de todo o genoma.
Onde se faz os exames?
O Whole Genome Sequencing (WGS) só é feito no Brasil através da Tismoo. Eu analiso pessoalmente todos os genomas.
Esse tipo de sequenciamento vai levar a algum tratamento? Qual a implicância prática desse exame?
É difícil prever, vai depender do caso. Existem casos onde pode ajudar no diagnóstico e levar a melhoria no tratamento. Em outros casos, vão ser encontradas mutações em lugares desconhecidos, vias que a ciência ainda não tem conhecimento de como atuam. Nesse caso eu recomendo que a interpretação genética seja atualizada de tempos em tempos. A Tismoo oferece o serviço de update, que atualiza as alterações genéticas com o tempo, a partir das descobertas científicas.
Existem situações mais raras, onde as mutações são encontradas em locais conhecidos. Muitas acabam direcionando para um tratamento relativamente tranquilo, como complementação de dieta ou aminoácido que consegue pular a alteração genética e fazer com que o indivíduo responda.
Não acontece pra todo mundo porque o conhecimento que temos do genoma e de como as vias metabólicas atuam é muito restrito. Conforme formos conhecendo mais, a porcentagem de indivíduos que vão se beneficiar desse tipo de tratamento vai aumentar.
Outra grande vantagem é que o exame é algo que você faz uma vez na vida. Os dados são válidos para toda vida. Se algum dia surgir algum tratamento ou droga que beneficie um certo tipo de mutação genética, ter a informação vai ser útil até para entrar em um ensaio clínico, por exemplo.