Professor da USP une-se a especialista em odontologia e autismo para criar material de apoio visual para higiene bucal
Atividades corriqueiras, aparentemente simples, podem se tornar um desafio para pessoas com autismo, sejam crianças ou adultos. Dependendo do nível de ajuda exigido para atividades como escovar os dentes, por exemplo, cada pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) pode demandar cuidados e estratégias diferentes. Como a maioria dos autistas são muito visuais, ilustrações com imagens simples podem ser bem úteis nessa tarefa diária de fazer a higiene bucal. A cartilha “Higiene Bucal para Pessoas com TEA“, lançada há algumas semanas, vem ajudar nesta tarefa, tendo, inclusive, cartões para serem recortados e usados na pia do banheiro a fim de auxiliar na atividade de escovar os dentes, com a sequência de cada etapa da escovação.
Especialista em autismo e odontologia, a cirurgiã-dentista Adriana Gledys Zink foi a responsável pelo conteúdo da cartilha de saúde bucal para autistas. A ideia de criar o manual veio do professor Eder Cassola Molina, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP (Universidade de São Paulo), inspirado pelo convívio com o filho Enzo, que tem autismo. Pai e dentista se uniram e criaram o material que já tem ajudado muitas famílias. Ele contou ao Jornal da USP um dos motivos que o inspirou, a ida do filho ao dentista: “Desde a primeira vez que o levei ao consultório, percebi as diversas dificuldades que meu filho enfrentava”. “O manual aborda uma necessidade importante: explicar à criança, antes da escovação ou da consulta, o passo a passo dos procedimentos que serão feitos. A prática resulta em uma maior confiança e estimula a colaboração do paciente”, explicou Eder.
Dentista do menino Enzo, Adriana é especialista na relação da odontologia com o autismo e é uma das autoras da cartilha. “Existem crianças que precisam que os pais só orientem: ‘Filho você precisa escovar o dente’; ou que o pai tem que fazer junto; e tem aquele que não fará sem um apoio maior”, exemplifica a dentista. As ilustrações são de Filipe Pessoa de Andrade e a diagramação, de Gabriel Jardim de Souza, da ECA (Escola de Comunicação de Artes) da USP.
Adriana Zink contou ainda que o conteúdo que produziu para a cartilha “Higiene Bucal para Pessoas com TEA” está baseado na última especialização que concluiu, com Maria Elisa Granchi Fonseca, sobre educação na perspectiva do ensino estruturado para autistas. “Adaptei tudo para odontologia”, resumiu ela.
A produção das cartilhas foi financiada pelo 3º Edital Santander/USP/FUSP (Fundação de apoio à USP) de Direitos Fundamentais e Políticas Públicas que objetivou apoiar financeiramente projetos de cultura e extensão universitária sobre o tema. A criação, elaboração e diagramação do material foi feita toda de forma voluntária pela equipe, e a verba liberada foi utilizada exclusivamente para imprimir 500 exemplares de cada uma das duas cartilhas, que foram solicitadas por diversos profissionais, entidades assistenciais e pais, e já se esgotaram.
Aplicativo
A parceria entre o professor Molina e a dentista vai para além dos informativos: eles trabalharam na elaboração de um aplicativo para iPad, que foi usado para coletar dados para a tese de doutorado de Adriana e apresenta de forma interativa as tarefas principais a serem realizadas na ida ao dentista. “Apesar de já estar operacional, o aplicativo ainda não foi lançado por faltarem os ajustes finais de design e tradução (ele está planejado para funcionar em português, espanhol e inglês), mas já foi utilizado com sucesso em diversas ocasiões durante a fase de testes. Como resultado, após sua utilização a aceitação das crianças às técnicas odontológicas mostrou-se muito boa. O aplicativo vai apresentar, entre outras coisas, o que é o dentista, como é sua vestimenta, a cadeira e o motor, além de diversos vídeos ilustrando várias técnicas para manter a boca aberta e escovar corretamente os dentes”, adianta o professor.
O projeto também produziu o informativo “Entendendo o Autismo“, que trata de forma leve os mitos e verdades sobre o tema. De acordo com Adriana, essa abordagem é importante porque contrasta com as diversas informações incorretas disseminadas na mídia sobre o assunto. Pensado principalmente para quem não conhece essa condição neurológica, o material busca ajudar no combate a certos preconceitos e estereótipos.
A elaboração do conteúdo contou com a participação de Adriana Moral e Estela Hosoe Shimabukuro, do Centro Lumi, instituição que trabalha no atendimento terapêutico educacional a pessoas com autismo.
As cartilhas, assim como os imagens dos cartões separadamente, podem ser baixada online em www.iag.usp.br/~eder/autismo/. Eder explica que é importante salientar que a versão impressa do material está totalmente esgotada.
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