O Dr. Alysson Muotri, neurocientista brasileiro e cofundador da Tismoo Biotech e da Tismoo.me, concedeu uma entrevista à Folha de São Paulo em que falou sobre sua missão pioneira na Estação Espacial Internacional (ISS). Desde 2019, Muotri envia minicérebros para a ISS, que são organoides cerebrais criados a partir de células-tronco pluripotentes induzidas (células iPS) obtidas de amostras de pele e dente de leite.
A reportagem
Escrita pela jornalista Stefhanie Piovezan, a reportagem destaca que o objetivo da pesquisa é entender como o cérebro se desenvolve e como a microgravidade afeta o sistema nervoso, com a expectativa de acelerar descobertas e tratamentos para o autismo e o Alzheimer. Os minicérebros têm o mesmo material genético dos doadores das amostras, permitindo analisar variações nos neurônios e o impacto no desenvolvimento de demências e do transtorno do espectro autista (TEA).
Muotri ressalta à Folha que a cura e o tratamento aos quais se refere são para pessoas com autismo severo, que possuem comorbidades associadas à condição. Para aqueles que têm uma vida independente e desejam inclusão, o foco é outro.
O pesquisador começou a investigar o que torna os seres humanos diferentes de outras espécies, e suas primeiras pistas indicaram que as respostas estavam na sociabilidade humana. Ele estudou as condições genéticas do TEA e da síndrome de Williams, procurando entender melhor o funcionamento do cérebro social.
Pai de autista
Além de cientista, Muotri tornou-se pai de uma criança diagnosticada com autismo com nível 3 de suporte (a forma mais grave do transtorno), o que o levou a se envolver mais ativamente na busca por formas de ajudar pessoas com essa condição. Ele realiza encontros anuais que reúnem cientistas, indivíduos com autismo e suas famílias.
Um dos desafios de sua pesquisa, segundo a Folha, é conseguir envelhecer os minicérebros no laboratório para que eles possam adquirir características de cérebros em diferentes idades. Para isso, ele se aproximou das pesquisas espaciais, pois os organoides cerebrais enviados à ISS envelhecem mais rápido em órbita.
Devido às limitações de experimentação com os minicérebros enviados à ISS, Muotri propôs treinar os astronautas para a manipulação desses organoides, mas a proposta não avançou. Como alternativa, ele mesmo se voluntariou para ir ao espaço em novembro de 2024. O objetivo é realizar experimentos e análises que levariam até dez anos em apenas uma missão tripulada. Se bem-sucedido, isso pode ajudar no estudo de demências e no rejuvenescimento do cérebro.
Brasil no espaço
A jornalista ainda destaca na reportagem que projeto da viagem foi apresentado ao presidente Lula e à ministra Luciana Santos, recebendo apoio para ampliar a parceria entre o laboratório na Califórnia e pesquisadores no Brasil, o que é considerado um sonho para Muotri, permitindo trabalhar mais perto de seus colegas brasileiros e levar projetos brasileiros ao espaço. A viagem de Muotri à ISS marca um importante passo na pesquisa sobre o autismo e a neurociência, com a expectativa de avançar na compreensão do cérebro humano e suas peculiaridades.
Leia a reportagem na íntegra, na Folha de S. Paulo de 22.jul.2023, ou na versão online neste link.
>> Leia também nosso artigo: “Minicérebros no espaço? Pra quê? – Tismoo“.