Um novo estudo divulgado ontem (16.jul.2024) pela ONG Autism Science Foundation (ASF) revela que a taxa de recorrência do transtorno do espectro do autismo (TEA) em crianças que têm um irmão mais velho autista subiu para 20,2%. Esse número é significativamente maior que a taxa da população geral, que é de 2,8% (segundo números do CDC dos EUA, divulgados em 2023). A pesquisa, publicada na revista Pediatrics, utilizou uma amostra mais ampla e diversificada do que um estudo similar realizado em 2011, que reportava uma taxa de 18,7%. Dados foram coletados de 18 locais diferentes pelo Consórcio de Pesquisa de Bebês Irmãos do Autismo, acompanhando 1605 bebês com irmãos mais velhos autistas desde o nascimento até os 3 anos de idade.
O estudo identificou que o sexo do bebê, o número de irmãos autistas na família e o sexo do irmão mais velho (probando) são fatores determinantes na taxa de recorrência. Bebês do sexo masculino apresentaram uma taxa de recorrência de 25%, enquanto bebês do sexo feminino apresentaram 13%. Além disso, a taxa de recorrência aumenta significativamente em famílias com mais de um irmão autista, chegando a 37%. Se o primeiro filho autista for do sexo feminino, a taxa de recorrência é de 34,7%, comparada a 22,5% quando o primeiro filho autista é do sexo masculino.
Variáveis associadas com a recorrência e as taxas de recorrência:
Sexo do bebê
- Taxa de recorrência em meninos = 25%
- Taxa de recorrência em meninas = 13%
Número de crianças autistas na família
- Taxa de recorrência se houver mais de um irmão autista = 37%
- Taxa de recorrência se houver apenas um irmão autista = 21%
Sexo do probando (ou seja, sexo do irmão autista mais velho)
- Taxa de recorrência se o primeiro filho autista for do sexo feminino = 34,7%
- Taxa de recorrência se o primeiro filho autista for do sexo masculino = 22,5%
Raça
- Taxa de recorrência em não brancos = 25%
- Taxa de recorrência em brancos = 18%
Educação materna
- Taxa de recorrência se a mãe tem ensino médio ou menos = 32%
- Taxa de recorrência se a mãe tem diploma de pós-graduação = 17%
Menos educação, mais recorrência
Contextos socioeconômicos também desempenham um papel crucial na taxa de recorrência do autismo. Crianças cujas mães possuem apenas o ensino médio ou menos apresentam uma taxa de recorrência de 32%, enquanto aquelas cujas mães têm um diploma de pós-graduação têm uma taxa de 17%. Esses dados sugerem que a monitorização de bebês em risco deve considerar tanto fatores genéticos quanto contextuais, com atenção especial para famílias economicamente desfavorecidas.
A Autism Science Foundation, uma das financiadoras do estudo, enfatiza a importância de uma vigilância contínua e intervenção precoce para irmãos mais novos de crianças autistas. A Dra. Alycia Halladay, diretora científica da fundação, destacou a necessidade de garantir que essas crianças sejam monitoradas de perto e encaminhadas para avaliação diagnóstica rapidamente se sinais precoces de autismo surgirem. “É crucial que os irmãos mais novos, especialmente aqueles do sexo masculino ou com múltiplos irmãos autistas, sejam acompanhados de perto durante o desenvolvimento inicial”, afirmou Halladay, que atua como responsável pelo programa do consórcio Autism Baby Siblings Research Consortium (BSRC). A coleta e análise deste grande conjunto de dados foi possível graças a um banco de dados compartilhado do BSRC, financiado pela ASF.
O BSRC é uma comunidade multidisciplinar de pesquisadores e clínicos dedicada a entender as origens e os primeiros sinais de TEA. Nos últimos dez anos, o consórcio tem identificado marcadores comportamentais e biológicos de risco antes da idade típica de diagnóstico, promovendo intervenções precoces na infância. Para mais detalhes sobre o artigo que explica o estudo e a respeito do trabalho do consórcio, visite o site da Autism Science Foundation, neste link.
O estudo original está no PubMed, em pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39011552/, e na revista Pediatrics (neste link).